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segunda-feira, 14 de junho de 2010

MUSEU DA IGREJA DO CARMO E DA PROVÍNCIA CAPUCHINHA NOSSA SENHORA DO CARMO

O Museu da Igreja do Carmo foi criado em 2007, pela Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo. Este significativo conjunto de obras foi composto, a partir da criteriosa e ao mesmo tempo ousada coleta de peças organizada pelo Ministro Provincial dos Frades, Frei José Rodrigues (frei Rodrigo) e ampliou-se progressivamente, graças à ajuda dos frades que fazem parte da Província do Carmo.

Ao longo desses anos o Museu da Igreja do Carmo, ainda se organiza na catalogação de suas peças. O valor histórico e sentimental do seu acervo tem como objetivo manter viva a história da presença dos frades capuchinhos no Maranhão, Pará e Amapá.

Detém um conjunto de cerca de mais de 2000 peças, provenientes das principais igrejas e das mais recônditas capelas dos frades capuchinhos do Maranhão, Pará e Amapá, abrangendo o período que se estende do século XV chegando até os nossos dias.

As coleções compreendem imaginária sacra, prataria, pintura, mobiliário, altares, vestimentas sacras, livros litúrgicos, pedras arqueológicas. Enfim, uma preciosa coleção que ostenta obras de autores exponenciais, entre outros tantos anônimos cuja produção artística não visava o renome, mas voltava-se apenas ao culto divino.

Resgate histórico sobre a Igreja e o Convento do Carmo e sobre os Capuchinhos no Maranhão.

Igreja N. S. do Carmo no inicio do século XIX

Os primeiros frades carmelitas chegaram ao Maranhão no período da expulsão dos franceses (1615) e receberam, do comandante Alexandre de Moura, entre 1615 e 1616, todo o terreno que atualmente compreende a Rua do Egito e o bairro ao redor, nas proximidades de onde encontra-se atualmente a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Capela de Nossa Senhora da Anunciação e Remédios, correspondente na época ao sítio que fora de um certo Monsieur de Pinau . EM 1624 foi nomeado o primeiro comissário do convento carmelita, frei Francisco da Purificação que veio, juntamente com o irmão leigo Frei Gonçalo da Madre de Deus, no mesmo navio que trouxe Francisco Coelho de Carvalho para governar o Maranhão, e já nesta data falava-se na construção de um novo convento; o que ocorreu em 1627 , quando foi iniciada a edificação do Convento do Carmo no mesmo local que está atualmente, onde havia uma capela com a invocação de Santa Bárbara, abandonado a Rua do Egito e imediações, a qual ficou conhecida por bastante tempo como “Carmo Velho”. Já instalados no novo Convento, os frades carmelitas ali instituíram um centro para estudos religiosos .

Nesse tempo a cidade era bem pequena; quase selvagem. Mas a história deste convento está tão ligada às lutas da cidade, que só ele vale como monumento de magníficas tradições.
Quando da invasão holandesa em 1641, o Convento do Carmo foi utilizado como fortificação para abrigar não apenas mulheres e crianças, mas também ali foram colocadas peças de artilharia pesada que sofreram muitos ataques dos inimigos, danificando grande mente a fachada a Igreja e parte dos dormitórios do Convento. Também o gado bovino pertencente aos frades carmelitas foi utilizado pelos portugueses para sua alimentação . Em 1643 se deu um renhido combate entre os holandeses em número de 1400 homens, comandados por um oficial por nome Anderson, e as tropas portuguesas sob as ordens de Antonio Teixeira de Melo, vencendo o inimigo que retirou-se, deixando no campo 160 mortos e 200 feridos.

Após a expulsão dos holandeses, nenhum tipo de indenização foi pago ao convento pela Coroa Portuguesa, ficando este em péssimo estado de conservação, uma vez que tanto os frades como os habitantes da cidade, não dispunham dos recursos necessários à sua recuperação. Esta situação de penúria vai lentamente se modificando em função das mudanças econômicas ocorridas no século XVIII, com a implantação da Companhia de Comércio e a conseqüente introdução do trabalho escravo negro no Maranhão.

Inseridos neste contexto econômico favorável, os frades da Ordem Carmelita tornaram-se possuidores de grandes extensões de terra, muitas cabeças de gado e escravos, que, estes, possivelmente, recebiam como doações testamentárias. Na última década do século XVIII foi feito o seguinte inventário dos bens dos carmelitas: “dois conventos – um em São Luís e um em Alcântara – um hospício no Bonfim, com 30 religiosos, 257 escravos – 7 fazendas – 24 léguas de terra e 640 cabeças de gado vacum e cavalar” .

No início do século XIX, após um século de progresso e acumulação de bens, a Ordem Carmelita, acompanhando o processo de decadência instaurado em todas as demais Ordens Religiosas, impedidas de receberem noviços, teve o seu número de frades drasticamente reduzido, abalando o importante trabalho que os frades desta Ordem praticavam junto à comunidade maranhense, onde funcionavam como excelente centro de irradiação espiritual e de ensinamentos úteis, constituindo-se no núcleo mais forte da vida urbana. Dali nasceram ruas que serpenteiam por outros bairros; cresceu a cidade; fortaleceu a tradição do povo da terra.

Em 1808 foi realizada uma grande reforma no convento e na Igreja, onde foram levantadas as duas torres. Nas décadas seguintes, o convento serviu de sede para a artilharia imperial, e quando esta foi dali removida, em 1829 , foi usado o seu andar térreo, como sede do Corpo Policial de Segurança Pública, além de no andar superior funcionar, desde 1831 a Biblioteca Pública, e, depois de removido o Corpo de Segurança Pública abrigar o Liceu Maranhense, criado em 1838 , pelo Presidente da Província, Vicente Tomás Pires de Figueiredo Camargo.

Certamente bastante freqüentada, a igreja do Carmo era sede de, pelo menos, duas importantes Irmandades Religiosas, a de Santa Filomena, instituída em 1844 , onde o Comendador Manoel Gomes da Silva Belfort, depois Barão de Coroatá, “teve a satisfação de colocar a imagem da Virgem e Mártir Santa Filomena num altar que às expensas suas foi feito com todo o luxo” ; e a de Bom Jesus dos Passos, composta de portugueses ricos , da qual não sabemos a data de fundação e que teve em 1875 roubada a relíquia do Santo Lenho que existia dentro da sua cruz de procissão.

A situação da Ordem, devido à escassez de religiosos, era já bem alarmante em 1834. Ainda assim o último dos sobreviventes, Frei Caetano de Santa Rita Serejo, fez os maiores esforços para salva-la da ruína. Durante 30 anos viveu sozinho no convento, onde manteve sob sua direção o Liceu Maranhense. Entre 1865/1866 empreendeu a restauração completa da igreja, inclusive sua fachada, cujo frontispício mandou revestir de azulejos portugueses.

Frei Caetano de Santa Rita Serejo administrava “um patrimônio de mais de 400 escravos, terras e olarias” . Com a sua morte em maio de 1891 , o governo tomou posse do convento e da igreja do Carmo, com base na Lei de Amortização de janeiro de 1891 que determinava que quando da morte do último titular das Ordens religiosas, os bens destas passariam para o controle do Estado, executando-se, por motivo de parecer do Tribunal Federal, as igrejas, que por serem destinadas ao culto público não podiam ser consideradas propriedades privadas, tendo sido assim a igreja do Carmo entregue à mitra diocesana em janeiro de 1892 após permanecer fechada por um ano.

Os novos ocupantes do Convento do Carmo chegaram em São Luís em 1893 para fundar a missão dos Capuchinhos Lombardos no Maranhão e se instalaram inicialmente na igreja de São João Batista dos Vinhaes, tendo sido transferidos para o Convento do Carmo em 1894 na condição de depositários de uma propriedade federal. Tão ruim era o estado de conservação da Igreja e do Convento que a primeira só foi reaberta ao público em 1895 depois de ser novamente consagrada, após tantos anos de profanação.

A Missão Capuchinha só iria obter a posse legal do Carmo após comprar o convento, posto para venda em arrematação pública no ano de 1911, a despeito de todas as obras realizadas no convento e na Igreja durante os anos que foram apenas depositários dos imóveis .

No transcorrer da primeira metade do século XX continuaram as obras de recuperação da Igreja do Carmo, que teve muitas de suas feições originais modificadas. Na década de 40, por volta de 1943 ou 1945 desabou a capela que pertencia à Irmandade de Bom Jesus dos Passos, e anos antes, entre 1931 e 1932 foi demolida a parte do convento que dava para a Rua da Paz visando o alargamento da rua.

Após ter cedido suas dependências para a instalação de colégios e serviços públicos no século XIX, durante o nosso século também o convento foi sede de muitas obras para o benefício popular como a União Operária Maranhense (1920), a Casa do pequeno Jornaleiro (1952), Escola Santo Antonio (1961), Voluntariado Missionário (1972), entre outros. Atualmente funcionam no Convento do Carmo cursos profissionalizantes e consultórios médicos e dentários, para atender a comunidade carente.

Algumas peças do acervo do Museu da Igreja do Carmo